quinta-feira, 21 de maio de 2009

Tempestuoso ou indignado? É preciso fazer alguma coisa...


Alguns acontecimentos tem me intrigado nos últimos dias.
Mais uma vez estive no INSS semana passada. Voltei para casa novamente sem resolver o que precisava. Mas ao contrário, com um problema a mais para ser resolvido. Fato que se repete cada vez vou a essa intransigente agência. Acho que os servidores dessa agência (e tomara que só dessa agência) foram treinados para dar as informações a conta gotas. Não foram capazes de me informar de uma única vez tudo o que preciso fazer para resolver minha pendência. Talvez pensem que sou um desocupado e tenha todo o tempo do mundo para ir “visitá-los”. Confesso que se tivesse que escolher alguém para visitar, eles não seriam os escolhidos.
Na quinta-feira passada (14.05) fui ao médico em São Paulo. Antes da consulta, precisava pegar no departamento específico de exames, a ressonância que eu havia feito do joelho direito. Enquanto eu e mais uma quantidade razoável de pessoas esperávamos por nossos exames, chegou um casal acompanhando um adolescente de aproximadamente 12 anos. Era um cadeirante e aparentava que além de problemas motores, possuía deficiências mentais. A recepcionista logo se adiantou e disse que se tratava de um atendimento preferencial. Que bom. O atendimento parecia que seria diferente daquele do INSS, por que no INSS eu mesmo encaminhei uma senhora de 72 anos para pegar uma senha de atendimento prioritário. A surpresa foi que a “servidora” pública disse que a senha seria disponibilizada sim, mas a senhora de 72 anos, curvada pelo tempo e por dores aparentes em suas costas, teria que pegar a longa fila de distribuição de senhas. Daí sim, ela seria encaminhada para um atendimento prioritário.
Como passei por essa situação que me incomodou no INSS, fiquei ligeiramente surpreso com o rápido atendimento que a recepcionista do hospital dirigiu ao casal que acompanhava o adolescente especial. Mas minha surpresa também foi bem ligeira. O casal que estava em pé ao lado da cadeira do filho, ali permaneceu por muito tempo. A solícita atendente se equivocou no atendimento preferencial e trocou os protocolos para retirada de exames. Uma moça que havia acabado de chegar, em poucos segundos teve seus exames em mãos. E estranhou. Não percebeu que o seu protocolo foi passado à frente como se fosse o protocolo garoto especial. Após uns 20 minutos de espera, chegou a minha vez. Peguei minha ressonância. Tive que assinar um livro de protocolo porque eu havia esquecido de levar o protocolo para retirar a ressonância. Eu estava observando tudo o que estava acontecendo. Fiz questão de ficar por ali, mesmo que já estava com meu exame em mãos, observando quanto tempo ainda aquele casal teria que ficar, silenciosamente, esperando.
A recepcionista errou ao trocar os protocolos. Até aí tudo bem. Quem nunca errou por falta de atenção. Somos humanos e por isso, estamos sujeitos ao erro. Adélia Prado garante: “quem nunca errou, vai errar!”
Diante dessas situações fiquei pensando na informalidade atual das relações. Tanto no INSS como na recepção do hospital, percebi que os “servidores” não direcionavam ao menos o olhar para quem precisava do serviço deles.
Talvez a correria ou então a rotina do dia-a-dia fez com que o trabalho fosse realizado mecanicamente. O problema é que o alvo, o sujeito dessa relação não é coisa e muito menos máquina. É pessoa, estamos falando de vidas, de histórias, de seres humanos!
Trouxe tudo isso para minha vida. Fiquei pensando em profissão e vocação. Talvez toda profissão seja vocação. Mas nem toda vocação seja profissão. Se os profissionais vivessem suas qualidades profissionais como verdadeiro dom, agiriam de forma diferente. E se todo vocacionado compreendesse a dimensão de sua vocação, faria efetivamente a diferença onde quer que estivesse. Lembrei-me das vezes que fui extremamente áspero com as pessoas. Outras vezes impaciente... Quem convive comigo sabe do que estou falando. Uma vez, alguém que mora comigo, me disse o seguinte: “Ricardo, você é tempestuoso! Por isso não faço questão de me relacionar com você. Tenho medo de como você vai reagir”. É claro que isso foi dentro de um contexto que não cabe nesse texto, talvez em outro que posso vir a escrever.
Mas confesso que isso mexeu comigo e me fez pensar muito. Até hoje não consegui esquecer essa frase que parece ter ficado gravada na minha mente e no meu coração. Até porque quem me conhece sabe que às vezes sou tempestuoso mesmo. Talvez seja o meu “espinho na carne”, se é que Paulo me permite usar essa expressão.
Diante dos fatos que contei, lembrei dessa frase de novo: “Você é tempestuoso”. Porque minha vontade tanto no INSS como no hospital foi a de tomar as dores das pessoas que a meu ver foram prejudicadas por um mau atendimento ou qualquer coisa desse gênero. Nesse contexto, penso que fiquei mais “indignado” do que “tempestuoso”.
No INSS fiz o que pude. Coloquei a senhora na minha frente e conversei um pouco com ela. Descobri em poucos minutos de conversa que por detrás daquela pessoa existia uma história marcada por dores e sofrimentos. No hospital não consegui fazer nada, além de assistir ao dramático espetáculo que se repete todos os dias.
Fiquei incomodado. Estou até agora. Por dois motivos: primeiro pelo o que presenciei. Segundo porque não fiz nada. Então, resolvi escrever um pouco. Escrever esse texto também não vai resolver os problemas e injustiças da sociedade. Sei disso! Mas talvez fará com que você que está lendo esse texto, faça alguma coisa para ajudar pessoas que se encontrarão em situações parecidas perto de você. E olha que vai acontecer, você sabe disso. Eu também quero fazer diferente da próxima vez. Acho que minha oportunidade está próxima, sabe por quê? Amanhã vou ao INSS novamente...

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